O artigo primeiramente, procura traçar um perfil histórico do termo weltanschauung, pontuando sua possível origem em Imanuel Kant (1724-1804), passando por nomes que foram responsáveis por difundir no meio acadêmico a expressão, como G. W. F. Hegel (1770-1831), F. W. J. Schelling (1775-1854), J. G. Herder (1744-1803), J. W. Goethe (1749-1832), Wilhelm Dilthey (1833-1911), Karl Mannheim (1893-1947). No campo cristão-reformado destacaram-se os teólogos James Orr (1844-1913), teólogo presbiteriano escocês, e Abraham Kuyper (1837–1920), teólogo reformado holandês. Contudo o autor apresenta a teoria do desenvolvimento histórico-cultural do filósofo reformado e teórico legal Herman Dooyeweerd (1894-1977), como a melhor referência de cosmovisão em sua relação com a sociedade e a perspectiva bíblica.
Depois algumas definições de weltanschauung são aqui apresentadas, mas em sumo, o artigo a define como: “uma orientação fundamental do coração”, que é parte integral da experiência humana e o meio pelo qual se interpreta o mundo, de maneira imediata e intuitiva, podendo ser articulada discursivamente através de conceitos e sistemas teóricos de pensamento. Para se obter uma compreensão acertada do processo de formação, transformação e compartilhamento de uma weltanshauung, é mister primariamente considerar dois elementos que se tornam basilares em todo o processo. Trata-se da estrutura interna de cada indivíduo, ou seja, a composição do seu eu, também chamada no artigo de camada ou matriz primordial, que é caracterizado pelos seus pressupostos religiosos. E em segundo lugar pelo seu contexto histórico-social, que se torna também um moldador da percepção do indivíduo. Segundo o artigo é por meio destes elementos que todo o processo de compartilhamento, incorporação e transformação de visões de mundo acontece. Esta relação dialética entre o eu humano e o seu contexto histórico-social, também é percebida no texto a partir de uma óptica bíblica. Quando em referencia a esta estrutura interna o autor cita o livro de provérbios que faz a seguinte admoestação: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). Segundo o texto este eu humano, ou esta matriz primordial, é exatamente o que a Bíblia chama de coração. Analisando ainda esta questão pelo foco bíblico, destaca-se que este coração, que antes da queda possuía uma qualificação de ser definido essencialmente na sua relação com o Criador, em ser-para-Deus. Depois da queda foi alterado para uma condição de rebeldia e desobediência, redirecionando sua relação para ídolos, caracterizando este coração em ser-para-um-ídolo, o que afeta todas as percepções secundárias e relações que envolverão este coração. O artigo também cita entre outros textos, Deuteronômio 7.1-6, que exorta ao povo de Deus se abster do relacionamento religioso com outros povos, afim de não se influenciar em seus contextos histórico-sociais. Este elemento externo que também origina uma weltanschauug pessoal, exerce seu condicionamento ao longo da vida do indivíduo, à medida que este vai angariando suas experiências. Dependendo do contexto histórico-social em que o individuo está inserido, suas percepções podem ser acrescentadas ou até mesmo substituídas por outras, de acordo com os recursos empíricos que ele possa vir a dispor. Dooyerweerd atesta que esses dois elementos possuem uma interação concomitante, influenciando-se mutuamente e desencadeando todo este processo.
Na seqüência o artigo revela que uma weltanschauung pode passar de um nível subjetivo-individual (Weltanschauung no sentido privado) para um objetivo-social (Weltanschauung no sentido comunitário). Isto na verdade, nada mais é, segundo o autor, do que uma “comunicação e comunhão de percepções.” Esta weltanschauug coletiva tem seu processo de transição a partir de uma weltanschauung individual ou familiar que evolui gradativamente nas camadas sociais até chegar ao status de uma weltanschauung regional ou nacional. O Artigo atribui à globalização, a possibilidade de um maior e mais eficaz compartilhamento de weltanschauugen, descrevendo de maneira clara suas interessantes conseqüência.
A weltanschauung privada apresenta um perfil de características voláteis, ou seja, ela nunca permanece orientada constantemente pelos mesmos parâmetros, mas sempre muda por causa do intenso processo de interação e reciprocidade em que está imersa. Mais uma vez nota-se que a família é o centro-base onde ocorrem as principais trocas de percepções. Aqui a família não é apenas vista como uma receptora de novas percepções, mas uma eficaz comunicadora tanto para seus membros como para outras famílias, formando assim grupos sociais ligados por este processo de interação e reciprocidade. A medida que estes grupos sociais fundem seus principais interesses, será então formado uma estrutura de plausibilidade, ou seja, os componentes reguladores que determinarão uma weltanschauung de nível objetivo-social.
A percepção cristão-reformada deste artigo conclui que todo indivíduo já nasce cativo a uma weltanschauung primordial apóstata (em razão da queda), e que esta condicionará as weltanschauungen secundárias na vida deste indivíduo. Contudo, a Palavra de Deus e o poder do Espírito Santo aplicados à vida de um indivíduo, regeneram nele a capacidade de interpretar o mundo, não mais através de uma óptica de desobediência e rebeldia, mas agora a partir de uma percepção primordial estabelecida em amor e obediência a Deus. Este processo afeta não somente a estrutura pré-teórica do indivíduo (referente à sua área interna ou subjetiva), mas também seu comportamento perante a sociedade. Assim será possível a este indivíduo interpretar o mundo através das lentes de uma Cosmo visão Cristão-Reformada.